Câncer Gástrico Precoce

Há muito tempo, tem sido motivo de preocupação entre os gastroenterologistas a prevenção e a detecção das neoplasias precoces, especialmente as do estômago e intestino grosso.

O câncer gástrico é uma doença de distribuição universal tendo incidência variável nos diversos países. O Japão e o Chile são os países de maior incidência e os Estados Unidos, de menor incidência.

O Brasil possui um índice intermediário. Em nosso país, uma série de doenças endêmicas de extrema importância e gravidade têm exigido maior atenção das autoridades da saúde. 

Entretanto, não podemos relegar a segundo plano o interesse e a divulgação dos conhecimentos necessários para o diagnóstico precoce do câncer gástrico. É fator decisivo no prognóstico da doença sua detecção precoce. 

O tratamento do câncer gástrico na sua fase avançada tem resultados desapontadores, variando de 5,6 a sobrevida em cinco anos.

Na sua fase precoce, o índice de sobrevida atinge níveis que variam de 91% a após cinco anos, até 96,4% após quinze anos.

Acredita-se mesmo que o prognóstico varie em função direta da precocidade do diagnóstico: quanto menor a lesão gástrica, melhores as possibilidades de sobrevida longa. Todos esses fatos indicam claramente que a detecção precoce do câncer gástrico é o fator básico para a cura da doença. Precoce é definido como uma lesão maligna restrita à mucosa ou à submucosa.

A história natural do câncer gástrico tem a característica de não oferecer sintoma patognomônico e de evoluir de forma assintomática por longo tempo. Devemos atentar para sintomas gástricos vagos, dor refratária a tratamento clínico, recidivas frequentes de tratamento e para a população de risco. O profissional de saúde tem enorme responsabilidade diante do paciente que refere sintomas vagos. 

No Brasil, é muito frequente o paciente ir ao ambulatório, procurar o médico com queixa de “gastrite” e sair com tratamento para gastrite sem ter feito qualquer exame. Quando o paciente volta, com sintomas mais graves, já passou da fase precoce e o tratamento já não tem a mesma chance de sucesso. Por, isso se as queixas apontam problemas na região do estômago, o paciente não deve ser dispensado sem que o médico tenha certeza do diagnóstico. Dadas as condições socioeconômicas da nossa população e nosso sistema de saúde precário, cabe aos médicos individualmente e aos serviços hospitalares já existentes a preocupação constante em aprimorar e aplicar os processos de diagnósticos da doença em sua fase precoce, assim como divulgar as medidas preventivas, valendo reafirmar que algumas delas são de fácil aplicação, tendo em vista os conhecimentos genéticos e epidemiológicos já existentes.

Alguns aspectos devem ser ressaltados, visando a caracterizar os grupos humanos que devem ser reconhecidos como constituintes da população de maior risco, destacando-se:

  • incidência maior com o avançar da idade; 
  • sexo masculino; 
  • grupo sanguíneo tipo A; 
  • tabagismo; 
  • hábitos dietéticos (alimentos defumados, ricos em amido, 
  • hidrocarbonetos e baixo consumo de frutas cítricas e vegetais); 
  • hereditariedade (a doença tem incidência de duas a três vezes entre os parentes diretos de doentes com esse tipo de câncer).

Algumas lesões gástricas têm sido descritas como pré-malignas: pólipo adenomatoso, gastrite atrófica, metaplasia intestinal e em gastrectomizados. Cabe aos gastroenterologistas atentarem para indivíduos sintomáticos ou aos pertencentes aos grupos de risco, submetendo-os ao métodos propedêuticos adequados capazes de diagnosticar a doença em sua fase inicial. 

Os principais exames são: endoscopia digestiva com biopsia dirigida, às vezes sendo necessário o emprego de corantes (cromoscopia) para realçar aspectos macroscópicos da mucosa gástrica, assim como a citologia. O advento da videoendoscopia com magnificação de imagem é um recurso utilizado em algumas situações. Hoje em dia, o tratamento via videoendoscopia também é possível, como a mucosectomia endoscópica, nos casos em que a doença apenas atingiu a mucosa gástrica. A indicação desse recurso depende de um conjunto de critérios científicos cuidadosamente avaliados e de acompanhamento endoscópico periódico.